O consumidor leva à boca uma colher de pudim e percebe a cremosidade uniforme, o brilho delicado e o sabor limpo. O que ele não nota é que por trás dessa experiência sensorial existe uma engenharia complexa. Entre proteínas sensíveis, temperaturas elevadas e estruturas microscópicas, há um equilíbrio químico extremamente delicado, e os fosfatos desempenham nele o papel de protagonistas silenciosos.
Essa textura perfeita, muitas vezes atribuída apenas à receita ou ao equipamento, é, na verdade, fruto da ciência dos ingredientes. No setor de tecnologia de laticínios, desenvolver uma sobremesa estável é um grande desafio. O leite, principal ingrediente, é um sistema sensível, em que as proteínas, especialmente as micelas de caseína precisam manter um equilíbrio delicado. Esse equilíbrio se altera facilmente com o calor e as variações de pH, comuns no processo industrial.
Durante o tratamento térmico, etapa essencial para garantir a segurança e a vida de prateleira do produto, surge o maior desafio: o calor pode fazer com que os íons de cálcio naturalmente presentes no leite formem pontes entre as micelas de caseína, provocando sua agregação. O resultado é um defeito crítico para a sobremesa: textura arenosa, granulada ou, em casos extremos, coagulação completa.
Para evitar esses problemas, os formuladores recorrem a uma das ferramentas mais eficientes da ciência de alimentos: os sais de fosfato.
Fosfatos em ação: uma solução multifuncional
Longe de serem um único ingrediente, os fosfatos são uma família de sais, que atuam de forma sinérgica para proteger e melhorar a estrutura das sobremesas lácteas. Sua importância está na capacidade de desempenhar múltiplas funções ao mesmo tempo.
Sequestro de íons de cálcio: o protetor das proteínas
Este é o papel mais crítico. Os fosfatos são excelentes sequestrantes ou quelantes, o que significa que se ligam aos íons de cálcio livres no leite. Ao capturar o cálcio, eles impedem a formação de pontes entre as caseínas durante o aquecimento. Essa ação protege as proteínas da desnaturação e da agregação, sendo a principal razão pela qual sobremesas UHT (Ultra High Temperature) mantêm uma textura perfeitamente lisa após um processo térmico tão intenso.
Tamponamento e controle de pH: o guardião da estabilidade
Os fosfatos também atuam como agentes tamponantes, resistindo a mudanças no pH do sistema. Manter um pH estável é fundamental, pois a acidez pode desestabilizar as proteínas do leite. Ao garantir um ambiente de pH controlado durante o processamento e o armazenamento, os fosfatos asseguram a integridade estrutural do produto final.
Interação com a rede de gel
Em sobremesas com estrutura de gel, como flans e pudins, um dos maiores desafios é a sinérese, ou seja, a liberação de soro líquido da rede de gel, percebida pelo consumidor como “água” separada do produto. Os fosfatos interagem com as proteínas e hidrocoloides como a carragenina, fortalecendo a rede e aumentando sua capacidade de reter água, o que previne eficazmente esse defeito.
Reconhecimento regulatório e expansão de mercado
A importância e a segurança dos fosfatos são amplamente reconhecidas por órgãos reguladores. A sua utilização é respaldada por décadas de estudos e aplicações bem-sucedidas. Essa relevância é tão consolidada que as legislações continuam sendo atualizadas para refletir sua funcionalidade. No Brasil, a Anvisa atualizou a IN nº 211/2023, incluindo formalmente os fosfatos com a função específica de estabilizantes em sobremesas lácteas, oferecendo mais clareza e segurança jurídica para a indústria.
No Brasil, o mercado de produtos lácteos deve atingir US$ 28,78 bilhões em 2027, com um CAGR de 2,4% entre 2020 e 2027, segundo a Grand View Research. O volume de leite produzido no país também segue em leve alta, passando de 25,0 milhões de toneladas métricas em 2024 para cerca de 25,4 milhões em 2025, conforme dados do USDA.
Esses números reforçam o potencial de crescimento do setor e a importância de soluções tecnológicas que garantam performance sensorial e estabilidade industrial.
Apesar do seu papel técnico indispensável e do seu perfil de segurança comprovado, os fosfatos enfrentam o desafio da tendência de “rótulo limpo”. Nomes como “pirofosfato tetrassódico” podem parecer intimidantes para um consumidor que busca listas de ingredientes mais curtas. É o dilema moderno da indústria: equilibrar a excelência técnica que garante qualidade e segurança com a simplicidade que o mercado exige.
Mais do que uma questão de formulação, trata-se de transparência e propósito. A inovação precisa continuar sendo traduzida em confiança. E é aí que a ciência dos ingredientes cumpre seu papel: unir performance e naturalidade, sem comprometer a experiência sensorial que o consumidor espera.
E é justamente nesse ponto que a Azelis | Vogler atua. Com know-how técnico, portfólio robusto e suporte especializado, a empresa ajuda fabricantes a equilibrar performance, regulação e percepção de valor, traduzindo ciência em sensorialidade e inovação em confiança.
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Fontes:
- Mordor Intelligence. Dairy Desserts Market – Growth, Trends, and Forecasts (2025–2030). Disponível em: https://www.mordorintelligence.com
- Grand View Research. Dairy Products Market Size, Share & Trends Analysis Report. Disponível em: https://www.grandviewresearch.com
- USDA Foreign Agricultural Service. Brazil: Dairy and Products Annual Report, 2024–2025. Disponível em: https://apps.fas.usda.gov
- Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Instrução Normativa nº 211/2023. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa



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